sábado, 7 de maio de 2011

Língua Portuguesa Rumo ao Letramento

 

O Livro traz textos autênticos, de gêneros variados e socialmente relevantes. Predominam os do campo jornalístico, principalmente reportagem, notícia e artigo de opinião, havendo também entrevista, crônica, tirinha, cartum, anúncio publicitário. Há ainda outros gêneros, como poema, canção, lei, declaração de direitos, história em quadrinhos, reprodução de pinturas, mas é reduzida a presença de textos literários. A estrutura recorrente das unidades é: título (tema), primeiro texto a ser lido, questões de leitura e análise lingüística. Essa mesma seqüência aparece mais duas ou três vezes na unidade, sem um trabalho efetivo de articulação entre os textos e os conteúdos focalizados. Fechando a unidade, vêm uma proposta de produção oral e outra de produção escrita, além da indicação de livros, filmes, CDs e páginas da internet relacionados ao tema abordado. O livro contribui para a formação de leitores autônomos, investindo no desenvolvimento das capacidades de compreensão e interpretação textual. São exploradas habilidades de leitura importantes, desde a localização de informações explícitas até a inferência de informações implícitas, passando pela compreensão global e a atenção aos processos coesivos e às estratégias discursivas (argumentação, persuasão, (im)parcialidade, ênfase, discurso direto e indireto, figuras de linguagem). As atividades, no entanto, não favorecem o estabelecimento de relações entre textos, mesmo entre aqueles que partilham o mesmo tema. O Livro também investe na formação de leitores críticos. As atividades propõem apreciações estéticas, éticas, políticas e ideológicas, considerando diferentes aspectos da realidade brasileira. Assim, a obra contribui para a formação da cidadania, estimulando, por exemplo, atitudes de preservação do meio ambiente e respeito às diferenças étnicas, culturais e lingüísticas. Entretanto, não é consistente o trabalho voltado para a formação do leitor de literatura. As atividades não se preocupam com a contextualização histórico-cultural da obra e do autor; não contemplam a singularidade dos textos; não favorecem experiências significativas de leitura literária. Integrados à exploração da leitura, os conhecimentos lingüísticos são trabalhados em atividades que possibilitam reflexão sobre o uso da língua. Essa abordagem escapa à tradição gramatical de descrição do sistema lingüístico, não adotando nem a ordenação dos conteúdos, nem os conceitos, nem a terminologia tradicional. São explorados os recursos expressivos presentes nos textos lidos e os aspectos normativos, voltados para o ensino da variedade padrão escrita: ortografia, acentuação, pontuação, concordância e regência, entre outros. A variação lingüística (histórica, geográfica e social) é adequadamente explorada, mas a obra tende a identificar fala com informalidade e escrita com formalidade. O tratamento dos conhecimentos lingüísticos fica prejudicado, no entanto, pela fragilidade da sistematização dos conteúdos. A obra não inter-relaciona as retomadas, não articula os conhecimentos abordados, não estabelece progressão entre esses conhecimentos. No eixo da oralidade, as atividades favorecem a fala no dia-a-dia da sala de aula, propondo discussões, seminários, debates, assembléias, entrevistas, exposições. Há também propostas de dramatização, representação teatral, declamação de poemas. Todavia, em geral, não são exploradas as particularidades lingüísticas dos gêneros orais, nem as condições em que eles são produzidos. O livro tende a chamar a atenção dos alunos quanto à conduta, à exploração temática e à linguagem adequada nas interações orais, mas sem orientá-los sobre o quê e como fazer. A tendência predominante das propostas de produção de textos escritos (com exceção das do último volume) é apenas apontar o tema e o gênero, sem explorar suficientemente o gênero a ser utilizado. Os objetivos e os interlocutores do texto a ser escrito nem sempre são definidos; é mais freqüente a indicação do suporte e/ou do contexto de circulação (na maioria das vezes, o mural da escola). Não há exploração significativa da variedade lingüística e das estratégias de coesão pertinentes. Outro problema é a ausência de trabalho consistente com as operações de planejamento, revisão e reescrita de textos: aparecem apenas recomendações pontuais e pouco significativas. Assim, a coleção não contribui efetivamente para o desenvolvimento das capacidades necessárias à formação de escritores autônomos e proficientes. O tratamento dado aos conhecimentos lingüísticos se distancia da perspectiva do uso, enfatizando a transmissão de conteúdos e propondo exercícios que se limitam ao estudo de palavras e frases. Solicita-se ao aluno a observação dos fatos lingüísticos, em contextos simples de análise, mas os próprios livros se encarregam de explicitar o fato lingüístico em foco, estabelecendo as regras gerais de seu funcionamento. Ficam, assim, limitadas as oportunidades de reflexão lingüística e sistematização por parte do aluno. A variação lingüística, embora reconhecida como constitutiva da língua, não recebe tratamento aprofundado e sistemático, mesmo nas seções destinadas ao conhecimento da língua. O Manual do Professor pode ser útil à prática de sala de aula. Apresenta a fundamentação teórica e metodológica da obra; explicita o conteúdo de cada unidade; traz as respostas dos exercícios e sugestões para o trabalho docente; indica leituras complementares para o professor. A grande lacuna diz respeito à articulação dos conteúdos entre si, sobretudo diante da falta de progressão e sistematização dos conhecimentos no Livro do Aluno. O projeto gráfico-editorial da obra é bom: a organização interna das unidades é bem demarcada, são utilizadas diferentes linguagens visuais para compor os textos da coletânea e para ilustrá-los. O sumário do Livro do Aluno, porém, não é suficientemente funcional, pois apresenta apenas o tema da unidade, o título dos textos e as respectivas páginas. Em sala de aula a qualidade dos textos e dos temas propostos pelo livro oferece subsídios à construção de projetos temáticos que envolvam um bimestre ou semestre letivo. Há indicações de livros, filmes, CDs e páginas da internet relacionadas aos temas, o que ajuda o professor a programar novas atividades, mas exige que a escola disponha de equipamentos específicos. Caberá ao professor comparar entre si os textos apresentados na unidade e trazer outros que dialoguem com os da obra. Também caberá a ele buscar novos textos literários para análise e estabelecimento de intertextualidade. É desejável, ainda, que o docente explore os conhecimentos prévios da turma acerca dos temas e intervenha na contextualização de alguns textos propostos para leitura, oferecendo informações sobre seu autor, a obra de que fazem parte e sobre o contexto histórico-cultural em que foram escritos. Quanto ao trabalho com os conhecimentos lingüísticos, deve-se frisar que um professor que julga necessário abordar a língua a partir de categorias e definições gramaticais sentirá dificuldade em se valer apenas desta coleção em sala de aula e, provavelmente, precisará recorrer a outros materiais didáticos. O eixo da produção textual oral e escrita vai requerer do professor um trabalho maior de complementação, na exploração das características dos gêneros propostos, na explicitação das condições de produção e na orientação do planejamento da revisão e da reformulação dos textos escritos. O tratamento dado aos conhecimentos lingüísticos se distancia da perspectiva do uso, enfatizando a transmissão de conteúdos e propondo exercícios que se limitam ao estudo de palavras e frases. Solicita-se ao aluno a observação dos fatos lingüísticos, em contextos simples de análise, mas os próprios livros se encarregam de explicitar o fato lingüístico em foco, estabelecendo as regras gerais de seu funcionamento. Ficam, assim, limitadas as oportunidades de reflexão lingüística e sistematização por parte do aluno. A variação lingüística, embora reconhecida como constitutiva da língua, não recebe tratamento aprofundado e sistemático, mesmo nas seções destinadas ao conhecimento da língua. O ponto forte do livro é o tratamento dado à leitura, capaz de desenvolver as habilidades do aluno em vários tipos de letramento. Propostas de produção de textos que trabalham as etapas de planejamento, escrita, avaliação auto-avaliação, reescrita e prevêem circulação dos textos. Com freqüência, integram se leitura e reflexão lingüística: a gramática normativa e as convenções da escrita são abordadas a partir dos textos lidos. Entretanto, a sistematização e a progressão dos conteúdos ficam por conta do professor: as atividades propostas evitam a transmissão pura e simples, mas tendem a dispensar a orientação rumo à construção do conhecimento. Os pontos fracos são a oralidade e a produção escrita: a maior parte das atividades não explora as características dos gêneros abordados nem indica suficientemente as condições de produção.